Se tem algo que todo BDSMer há de concordar é o quanto esse tipo de dinâmica é intensa e o quanto é capaz de mexer com as emoções mesmo das pessoas mais seguras de si.
Hoje, o SubMundo não traz um relato excitante ou uma história de tirar o fôlego, mas uma confissão de sentimentos reais que podem acometer qualquer pessoa que confronta pela primeira vez o cenário idealizado com a realidade visceral de uma prática BDSM.
E esse é o registro do diário de Bela referente ao dia seguinte à sua primeira sessão:
“Cada escolha pressupõe uma renúncia e, no momento em que o desejo tomou meu corpo e meus pensamentos, expurguei todos os outros sentimentos pudicos e me entreguei deliberadamente àquela experiência.
Mergulhei numa imensidão sem lógica, para fora de tudo que minha consciência poderia ser capaz de alcançar. E ao desafiar as formas antes desenhadas, lancei-me no vazio de mim mesma e perdi toda a direção.
Não havia mais um caminho certo a seguir, não havia nada diante de mim além da angústia provocada pelo excesso de possibilidades que agora eu poderia trilhar. Algo em mim morreu naquela noite e agora sou puro devaneio. Não ouso procurar respostas e verdades, mas as lágrimas denunciam minha inquietação.
Culpo minha ingenuidade por acreditar que tanta teoria daria conta de tão visceral realidade.
Tola!
Tento ignorar a dor, mas luto contra a minha indiferença. Atração, aversão, perversão são fragmentos da minha nova identidade.
Choro!
Um choro denso e intrigante. Teria a personagem dado conta daquela espetacular fantasia desejada? Seria mesmo um desejo ou euforia idealizada? Perco-me na fragilidade de minha convicção na ânsia de ignorar o abismo em que acabo de me lançar.
Respiro!
Falta-me o ar e sinto-me tão pequena e tão sufocada. Nó no peito e um peso como se algo tentasse esmagar minha existência.
Reviro as emoções e tudo é tão contraditório. Esforço-me para desvendar o caos que me assola. Se ainda há tanto querer em mim, se a ansiedade por um salto mais alto me corrói e não há arrependimentos em minha alma, por que essa estranha aflição? Se o simples ato de fechar os olhos me dá tesão e me transporta de volta, me fazendo virar mar, por que não me sinto completa e realizada? De certo há uma frustração em mim, por ter desejado tanto e ter deixado a desejar.”
Esse texto, um tanto angustiante, mostra uma submissa inexperiente e que exigia demais de si a ponto de sentir-se frustrada com sua entrega e seus próprios limites.
Bela ainda estava descobrindo o que funcionava e o que não funcionava na prática e acabou cobrando de si uma performance que só fazia sentido nas suas fantasias, por vezes romantizada e por vezes pornotizada.
Não houve erros, acidentes, imprevistos ou qualquer quebra de acordo durante a primeira sessão de Bela. Apenas ocorreu que o BDSM romantizado pelo seu imaginário ruiu como um castelo de areia e deu lugar a uma vivência palpável e concreta que distanciava-se do imaginado.
Queremos, com esse relato, queride leitor, mostrar a você que os sentimentos de culpa, frustração, incapacidade, dúvida, etc podem acompanhar essa descoberta de uma nova sexualidade e que está tudo bem se a primeira experiência ainda te parecer estranha ou precisar de ajustes.
Para lidar com todas essas emoções é que aconselhamos um aftercare bem feito não só no momento após a sessão, mas também nos dias que se seguem. O acompanhamento mútuo entre os parceires e um diálogo aberto e honesto são ingredientes eficazes para dissipar todos esses fantasmas que podem nos assombrar nesse período.
Portanto, por mais difícil que possa parecer no início, tudo isso faz parte desse processo de experimentação do novo e, com o tempo, as nossas expectativas se coadunam com a realidade e as dinâmicas tornam-se muito mais prazerosas.
Confie no processo, respeite os limites do seu corpo e mente, não descuide do aftercare e tenha ótimas sessões com seus parceires!
Com carinho,
Bela.