Para começar o nosso passeio pelo SubMundo decidimos voltar um pouquinho no tempo e contar como viemos parar aqui. Hoje vamos apresentar a primeira vez em que a Bela teve contato com esse universo.
Até pensamos em produzir um texto novo recordando como foi a chegada de Bela já com a visão que temos hoje acerca do BDSM, mas achamos mais genuíno mostrar para vocês o olhar da Bela iniciante assim que abriu a caixa de Pandora.
Usamos aqui a simbologia da caixa de Pandora retomando a mitologia grega pensando não só no sentido da curiosidade pelo desconhecido, mas principalmente pelo sentido de subversão de paradigmas. Pandora ao abrir a caixa descumpre o que lhe foi ordenado e abandona o mundo idealizado que ela conhecia até então. E assim acontece com quem adentra o SubMundo, que imbuídos pela curiosidade e ávidos por libertar seus desejos, subverte a ordem normativa em busca de prazer.
Então, resgatamos os escritos de Bela sobre como ela abriu essa caixa. Com a palavra Bela…
“Levava a minha vida normalzinha, tudo na mais perfeita desordem: trabalho, filho, casa pra arrumar, conta pra pagar, pandemia pra me preocupar e até uma separação pra superar. Nos momentos de ócio, proporcionados pela quarentena, aquela resenha com azamigas e uns papinhos despretensiosos pelos apps de relacionamento.
Eis que papo vai e papo vem, conheci um portuga que tinha uma foto de tirar o fôlego, malhação em dia, olhar penetrante e uma boca… e a conversa fluiu bem gostosinha, sem aquelas perguntas chatas que parecem entrevista de emprego. Quanto mais a gente conversava, melhor ficava e em dois dias parecíamos íntimos.
Conversávamos sobre tudo, de forma leve, descontraída e sem pudores. As conversas foram ficando apimentadas, mas com um nível de respeito surreal. Sem vulgaridades aleatórias, ele ia me apresentando um mundo de prazeres que eu desconhecia. Sua forma de falar, o timing perfeito de cada comentário foi mexendo com minha cabeça. Ele instigava minha imaginação de um jeito avassalador, dominava meus pensamentos e começou a acessar partes de mim que eu não fazia ideia que estavam lá.
Eu ansiava pela hora de falar com ele, a minha vontade de me sentir subjugada aumentava a cada contato. Eu queria muito encontrá-lo, sentir tudo o que ele me contava, que dizia que tinha vontade de fazer comigo… eu adorava como ele dizia que ia judiar* de mim, que eu ia sentir dor no clitóris de tanto prazer.
Mesmo sabendo que ele não estava me vendo, eu queria obedecer seus comandos e não entendia o porquê. Até que um dia, sedenta por suas ordens, eu tive um orgasmo maravilhoso. Eu não ouvi sua voz, não senti seu cheiro, sequer acredito ter visto sua imagem real, mas a experiência que eu tive foi fantástica.
Apesar de toda minha insistência para concretizar tudo aquilo ao vivo, infelizmente [ou felizmente], ele me disse que eu não estava pronta para aquilo e que ele tinha pouco tempo no RJ para me ensinar, pois logo voltaria para Portugal. Confesso que foi uma frustração no início, mas mesmo sabendo que pode ter sido uma mentira, que seu perfil poderia ser fake, ele abriu uma gavetinha dentro de mim que eu nem sabia que existia. E assim conheci o BDSM.”
Ao contrário de muitas pessoas que descobriram seu interesse no BDSM através da ficção seja com literatura erótica ou assistindo a trilogia “50 tons de cinza”, “A secretária” ou “9 e meia semanas de amor”, dependendo da época, Bela não sabia da existência desse universo paralelo, mas descobriu, ainda que de forma virtual, que havia muito mais a explorar em relação a sua libido do que ela já havia conhecido.
E vocês, querides leitores, como vocês abriram a caixa de Pandora? Vem dividir com a gente sobre sua experiência nos comentários.
* O termo “judiar’’ empregado nesse texto foi mantido por ser a expressão que foi utilizada no contexto dessa memória. No entanto, reconhecemos o teor pejorativo do termo e repudiamos o uso desta palavra para ofender e diminuir o sofrimento causado ao povo judeu.